Os registros sonoros mais antigos de danças dramáticas nordestinas existentes neste acervo datam de dezembro de 1978, gravadas em Maceió, AL e de novembro de 1978 a junho de 1979, em João Pessoa, PB.

Em Maceió, foram registrados um ensaio e uma apresentação da Chegança Minas Gerais, de Mestre Antônio, além do Guerreiro de Mestre Jorge de Bebedouro, Baianas, Pastoril do Farol, Pastoril Menino Jesus e Guerreiro de Velhos.

Em João Pessoa e em Santa Rita, em janeiro, foram registrados o Cavalo Marinho de Mestre João Raimundo, além de Ciranda e Pastoril, em apresentações públicas.

Foram selecionados os registros de Mestre Antônio e Mestre Jorge, por se tratarem de mestres que eram referência cultural em seu tempo e são tidos como referência ainda hoje em Alagoas.

Dentre as brincadeiras gravadas em João Pessoa, selecionamos a do Cavalo Marinho de Mestre João Raimundo, da qual já participava Zequinha, hoje reconhecido mestre de Cavalo Marinho de Bayeux, uma das referências culturais desta forma de expressão da Paraíba. Também foram selecionados registros de outro Cavalo Marinho de Bayeux e a Barca (ou Nau Catarineta) de Seu Orlando, de Mandacaru, João Pessoa, PB.

Antes destes registros, foram gravados na Festa da Penha, de João Pessoa, em 25 de novembro de 1978, o Cavalo Marinho de Mestre Raimundo, de Bayeux, aproximadamente quinze minutos, com as falas do Mateus, o som de chocalhos e da rabeca, o canto “Na hora de Deus amém”, risos do público por causa do Mateus, som do trupé dos galantes. Tudo isto com muitas interferências, tanto da aparelhagem de som utilizada no local, quanto das vozes do público.

Neste dia, também foram feitos registros de vários cantos da Barca de Mestre Orlando. O Ração fazia muita brincadeira, provocando risos na plateia. Muitos anos se passaram para sabermos que Seu Orlando estava entre os integrantes da barca da Torre, gravada em 1938 pela Missão de Pesquisas Folclóricas, enviada por Mário de Andrade ao Nordeste e Norte. Em algum momento, entre 1938 e a década de 1970, o mestre da Barca da Torre, Seu Cícero, levou a brincadeira para Mandacaru.

Em junho de 1979, novos registros de Cavalo Marinho e da Barca de Seu Orlando (Fitas 146, 187 e 188). Como em outras apresentações públicas, os registros revelam muitas interferências, seja da aparelhagem de som, seja das vozes altas do público. Mesmo assim é possível ouvir as letras de vários cantos e o som dos instrumentos.

Durante a apresentação do Cavalo Marinho, na Lagoa, em João Pessoa (fita 186, lado B), o Mestre lamenta por não ter tempo para todas as partes  (diz que são 22 partes) e anuncia a parte do Boi Surubim. Apesar da aparelhagem de som, dá para ouvir relativamente bem. Esta é uma queixa frequente dos mestres populares, por não terem tempo suficiente para apresentarem sequer uma amostragem significativa, um conjunto narrativo coerente, de suas brincadeiras, em eventos públicos. Na fita 187, lado A, continua a apresentação do Cavalo Marinho – parte do Boi – Boi Surubim. Muita interferência.

Na fita 187, lado A, há registros da Nau Catarineta Boa Esperança, do Mestre Orlando, de Mandacaru – banjo, pandeiro, bandolim, que tínhamos gravado na Festa da Penha, anunciada como Barca da Torre.

Outra dança dramática importante de João Pessoa, registrada em 10 de março de 1979 é a Tribo do Carnaval. A fita184, Lado A, contém registros sonoros de Tribos de João Pessoa, gravados na rua durante as apresentações do Carnaval, na Rua Duque de Caxias, imediações do Ponto Cem Réis. Os  alto-falantes reproduziam a sonoridade das gaitas e dos triângulos, envolvendo o ambiente, mas a transmissão deixava de fora os instrumentos de percussão, bumbos e ganzás. Desde aquela época, notamos que há muita fala do locutor, o que prejudica a audição dos grupos. Crianças em torno do gravador causaram algumas interferências. Após a apresentação diante do palanque, quando um dos grupos já se retirava, fomos acompanhando com o gravador ligado. A partir dos 14 minutos melhora a gravação; é direta, sem interferência aparelhagem de som. Há vozes, porque é som de rua. O toque da gaita, com tambores, triângulo e ganzá é agora plenamente audível. Explicações de participantes, entre elas, o toque da dança da morte, também chamado a macumba. Esta denominação é corrente ainda hoje.

Para amostragem reproduzimos trechos do ensaio da Chegança Minas Gerais do Mestre Antônio, por se tratar de uma das danças dramáticas com tema náutico como a Nau Catarineta, ou Barca de João Pessoa.

Quanto à qualidade técnica, a gravação é direta, em um lugar que não dispunha de microfones e caixas de som. Ouve-se perfeitamente os cantos e falas. Muitas meninas e adolescentes. Um único instrumento: pandeiro. O personagem cômico da Chegança é o padre, que parodia o tom de sermão em missas (fita 150, lado A).

Os registros do Guerreiro de Mestre Jorge de Bebedouro foram feitos em apresentação pública e prejudicados por outros sons reproduzidos na praça em alto volume. Aos 24 minutos, do lado B, fita 150, começa o som de Guerreiro, trupé, canto, som de espadas Voz de. Mestre Jorge do Bebedouro. Vai até os 7 minutos do lado B da fita 151.

Os registros feitos em João Pessoa, PB, entre novembro de 1978 e junho de 1979 apresentam muitas interferências, por isso foram selecionadas as partes com menos problemas.

Relação de danças dramáticas selecionadas:

  1. Chegança Minas Gerais, grupo de Mestre Antônio, ensaio, Maceió, AL (fita 149 e 150)
  2. Guerreiro de Mestre Jorge de Bebedouro, Maceió, AL (fita 150 e 151)
  3. Barca da Torre ou Nau Catarineta Boa Esperança, de Mandacaru, de Mestre Orlando. João Pessoa, PB (fitas 146, 187 e 188)
  4. Cavalo Marinho de Mestre João Raimundo e outro também de Bayeux (fitas 146 e 155)
  5. Tribos do carnaval (fita 184)

Catálogo da Coleção

Amostras da coletânea:

Conhecemos a dança de São Gonçalo, acompanhando os “folgazões” de Mogi das Cruzes: Seu José Tavares, Gonçalinho, Luiz Honorato, os irmãos Dito Fiúza (Benedito Cardoso) e Luiz Fiúza (Luiz Cardoso), estes últimos participantes do batalhão de Moçambique de Seu Conrado. As danças eram feitas em pagamento de promessas e ocorriam aos fins de semana durante o ano todo. A dança é complexa, tem várias partes, os chamados mistérios, cada qual com um conjunto de versos. A coreografia da dança varia em cada mistério, com voltas, sapateados e bate-palmas. A última parte é chamada de Caruru, Cururu de São Gonçalo ou Volta Grande, em que se formam duas rodas, que ao se juntarem formam a “volta grande”,momento em que a imagem do santo era retirada do altar e os festeiros, que pagavam a promessa dançavam segurando-a.

São muitos registros feitos na região de Mogi das Cruzes entre 1974 e 1978.

Entre 1978 e 1979 tivemos a oportunidade de conhecer a dança de São Gonçalo na casa de Mariquinha na Vila Carolina, São Paulo, SP. Mariquinha é filha de Dona Guilhermina do Batuque e Samba lenço e anualmente cumpria sua promessa.

Como são muitos os registros, para a amostragem, fizemos uma coletânea, reunindo trechos da dança desenvolvida por diferentes mestres e folgazões, mantendo várias das rezas cantadas. Alternam-se gravações de Mogi das Cruzes e de São Paulo para se ter ideia da diferença de ritmos e das rezas cantadas. Também foram incluídos fragmentos de explicações, exemplos de mistérios, rezas, dança com sapateado e bate-palmas. É forte a presença das violas tocadas pelos mestres e contramestres, tocadas em louvor ao santo violeiro. São quatro vozes: a do mestre, do contramestre, do tipe e contralto.


Amostra de registros da Dança de São Gonçalo

Amostra de aquivos brutos:

Amostras da coletânea:

O batuque, também conhecido como tambu ou samba de umbigada, e o samba lenço, aqui apresentados, são formas de expressão afro-brasileiras. Na época em que foram feitos os registros (1976-1983), eles ocorriam em poucas comunidades negras de cidades do estado de São Paulo: região de Piracicaba, Sorocaba e Lençóis Paulista, em cidades próximas da capital (Mauá, Barueri) e em bairros paulistanos no entorno da Freguesia do Ó (Vila das Palmeiras, Vila Carolina) e do Bairro da Casa Verde (veja a galeria de fotos). Convivemos mais com os batuqueir(os)as e sambador(es)as que mantinham contato com as quatro irmãs, Guilhermina, Aparecida, Albina e Chiquinha (ver fotos abaixo), verdadeiras matriarcas negras, detentoras de saberes e fazeres do catolicismo popular, batuque e samba lenço, residentes na Vila das Palmeiras e bairros próximos à Freguesia do Ó, São Paulo, capital. Com elas viajamos para Mauá, para Olímpia e conhecemos Seu João, Dona Nenê, Isaura, Dona Sebastiana, José Mauro, tocador do bumbo 7 léguas, que morreu muito jovem, mas tornou-se, desde cedo, uma referência do samba lenço de Mauá.

Dona Guilhermina, a mais idosa das quatro fazia anualmente uma festa em sua casa no dia treze de maio. Era uma Festa de São Benedito com procissão pelas ruas vizinhas, terço cantado e samba (batuque e samba lenço). Antes, segundo ela, fazia-se uma espécie de teatro de rua em que se encenava a libertação dos escravos. Quando a conhecemos, a festa consistia na procissão, terço cantado e, eventualmente o samba (batuque e samba lenço).

Os registros aqui apresentados mantêm a estrutura das festas em que ocorreram, isto é, antes da dança coletiva, o acompanhamento de procissões, terço com rezas cantadas, vivas… para depois começar o samba. Nos intervalos, ora estão ensaiando novos sambas, ora cantando modas do batuque.

De costas Dona Guilhermina [clique para ampliar e fechas as imagens]

batuque cvF1000001

No centro Dona Albina e a direita Dona Aparecida

batuque cvF1000006


Catálogo da Coleção

 Amostras de registros retirados de:

1) Reza cantada e batuque festa  de seu Ageu, Barueri, SP, 21 maio de 1977 (fita 059)

2) Reza cantada e Batuque após Dança de Santa Cruz. Comunidade negra do Cafundó. Sorocaba, 13 maio de 1978 (fita 063)

3) Reza cantada e samba lenço. Festa de São João na casa de Dona Sebastiana. Mauá, 24 jun. 1978 (fita 66 e 67)

Amostras:

“Samba-lenço-Faz muito tempo que esse bumbo não trabaia-FITA-066-A”

Porteira nova tem arenga no fechar
Porteira nova tem arenga no fechar
Tourinho novo quando berra quer mamar
Tourinho novo quando berra quer mamar

Faz muito tempo que esse bumbo não trabaia
Faz muito tempo que esse bumbo não trabaia
Bate co’o bumbo como as muié faz co’as saia
Bate co’o bumbo como as muié faz co’as saia


Galeria de imagens: