Fita 59 – Festa de São Benedito – Batuque na casa de Seu Ageu

Barueri, 21/05/77


 

Anotações em caderneta

21/05 – Barueri

Contextualização

Marcos e eu fomos com dois amigos, Maria Lúcia Montes e Kevin, a convite de Dona Albina. Fiz as fotos. Marcos gravou. Fiz anotações na caderneta, que também contém anotações de Maria Lúcia e do Marcos. Há informações sobre o lugar, frases ditas por pessoas presentes, além de nomes e endereços. Reuni algumas informações da caderneta com a transcrição feita com a nova digitalização. Há algumas interferências que prejudicam o entendimento de algumas modas.

Para quem não conheceu o batuque de antigamente, preciso dizer que era dançado apenas por pessoas de idade, residindo em várias cidades paulistas: São Paulo, Tietê, Piracicaba, Sorocaba, Laranjal, Barueri. Tinham uma espécie de Sociedade e, quando eram convidados para alguma festa, avisavam os companheiros dos vários lugares.

Informações sobre o lugar anotadas na caderneta:

Descer na Estação, pegar a rua que dá na ponte do rio, depois chegar na Igreja, subir rampa à esquerda.

Falta escanear mapa manuscrito  e inserir aqui

Marcos anotou pedaços de frases de Seu Ageu sobre sua infância:

 

Ageu: “Passei a mão ni mim mesmo… no meu trapiche” (sobre fuga de casa)

“A uma hora depois da meia-noite”.

A madrasta: “Madrasta que o diabo arrasta”.

 

Fiz anotação de nomes e alguns endereços

Sr. João do Carmo (o que não dança)

Antonio Dias (o mais velho da sociedade)

Piracicaba – Sr. Alvelino

De chapéu Sr. Roberto do Porto

Piracicaba – Dona M, Benedita dos Santos

Dona Inocência (blusa cor-de-rosa)

Na caderneta de campo, além de anotar algumas letras do batuque, enquanto os batuqueiros estavam ensinando a moda para os homens, fizemos a descrição quase total da dança.

São feitas duas filas. A dos homens está próxima dos tocadores de tambú, quinjengue e matraca e cantadores. Os homens aprendem  a moda e vão até as mulheres. (É a primeira viagem para se conhecerem). Depois as mulheres vão seguindo os homens até a fila deles para aprender a moda. Em seguida, os homens saem de novo em fila, acompanhando as mulheres e no local onde estão de novo em fila, dão umbigada nas mulheres e voltam para seus lugares.  A fila das mulheres se desloca até a dos homens  e ali dançam, dando umbigada. Assim segue a dança: os homens se deslocando até as mulheres e elas os acompanhando até a deles, fazendo assim várias viagens.

Na primeira vez que se deslocam vão todos. Depois parece ser à escolha. Por exemplo. Saem os pares: dois homens vem, Depois duas mulheres vão.

Maria Lúcia escreveu na caderneta:

A canção é  “cozinhada” entre os batuqueiros. Todos saem e vão “ensinar” as mulheres. Voltam, de costas, batendo os guiás e as mulheres vão junto. Não dão a embigada. Voltam de costa, e os homens seguem (alguns, apenas) e dão a umbigada. As mulheres escolhidas saem e escolhem seus pares na fila dos homens.

 

A anotação de alguns versos que auxiliaram a transcrição de áudio, que segue:

TRANSCRIÇÃO

Reza cantada (00:01 – 06:43)

1 – (00:01 – 02:19)

Oi viva São Benedito (bis)

Oi viva São Benedito (bis)

Oi viva oi viva São Benedito (bis)

Oi vamos cantar um viva

Oi viva oi viva São Benedito

Oi viva oi viva São Benedito (bis)

 

2 – (02:19 – 03:29)

Oi viva viva São Benedito (bis)

Vem socorrer meus irmão aflito (bis)

Oi viva oi viva São Benedito…

 

3 – (03:00 – 05:13)

Eu não sei rezar (bis)

O meu coração é só pra te adorar (bis)

Eu não sei rezar (bis)

Mãezinha do céu eu quero encontrar

Eu quero encontrar contigo lá no céu

Mãezinha do céu eu quero encontrar

Eu quero encontrar contigo lá no céu

Seu manto é azul seu véu é tão branco

É a Nossa Senhora que vem pra nós adorar

 

[…]

OBS.: Faltou transcrever um canto de procissão

 

Batuque (06:44 –

 

1 – (06:50 – 09:55)

u montava em burro brabo / até de cara pra trás (bis)

Ai meu tempo de criança

Agora  não volta mais

Ai  meu tempo de criança

Agora  não volta mais

Eu montava…

 

2 – (09:55 –  10:41)

Só instrumentos (confuso)

 

3 – (10:42 –  12:20) [10:42 –  13:18]

 

Ê Ageu nós rezamo todo dia

Pra você gozar saúde

Junto com  sua família

 

Nós viemo de São Paulo

Pra dançar em Barueri

 

Ê Ageu nós rezamo todo dia…

 

4 –  (13:41 – 15:10)

Ê Ageu Ageu Ageu

Sua estrela brilhou no céu

Na sua horta choveu

 

A sua promessa tá cumprida

Vamos dar graças a Deus

 

5 –  (15:11 –  17:00)

Papagaio controlando

 

Ninguém viu o que eu vi hoje

Lá na Cidade Jardim

Papagaio controlando

A companheira do chupim

 

O tico-tico ficou bravo

Ele foi falou assim

Que o mundo dá muita vorta

Você vai precisar de mim

 

OBS.: Em certo momento alguém diz “a batida corrida é melhor”

 

6 – (17:00 – 17:55)

 

São Benedito poderoso

Com seu afiado no braço

Proteção do mundo inteiro

Proteção dos nossos passo

Livra nós dos inimigo

Livra nós dos embaraços

 

7 – (18:00 – 20:10)

Muito confuso

 

8 – (20:17 – 22;00)

 

Um minuto de silêncio

Nosso amigo que morreu

Um minuto de silêncio

Nosso amigo que morreu

 

Nosso amigo João Marmanjo

Foi co’os anjos foi com Deus

Nosso amigo João Marmanjo

Foi co’os anjos foi com Deus

 

 

9 –  (22:08 – 23:21)

Aê aê

Ê maninho

Mas ninguém abre a minha porta

Mas ninguém fecha o meu caminho

 

Aê aê

Ê maninho

Todo o mundo me vê só

Mas eu nunca tô sozinho

 

10 – (23:22 – 24:27)

 

Ê Ageu ê Ageu

Todo mundo me consola

Pra eu não ficar sozinho

Todo mundo me consola

Pra eu não ficar sozinho

 

Ninguém abre a minha porta

Ninguém fecha o meu caminho

Ninguém abre a minha porta

Ninguém fecha o meu caminho

 

11 – (24:28 –

 

Que mulher  é aquela

Ô Maria mulata

Seu carinho me consola

Seu coração que me mata

[…]

 

12 – (26:40 – 27:00)

 

Difícil de  transcrever

 

13 – (27:16 – 27:35)

 

Eu nasci em Jumirim

Minha cidade natá

Fui registrado e batizado

Ô morena

Na cidade Laranjá

 

14 – (27:36 –

 

Até hoje não sei o que aconteceu

Até hoje não sei o que aconteceu

 

Mas o homem que é mandado por mulher

Não pode fazer o que quer

Não ???

 

Alguém diz: É corrido!

 

15 –  (31:00 –

 

 

Ê Gabriel ê Gabriel

 

Paixão se cura com a morte

 

[…]

 

Lado B

 

16 – (0:10 –

 

[…]

… preso na cadeia

Eu tenho a justiça divina

que é o meu advogado

 

Conversa com sambadoras no intervalo.

Explicam como fazem para juntar os  sambadores que moram em muitas cidades. Está muito difícil de transcrever. Não se denominam batuqueiros, mas sambadores e sambadoras.

Isto porque é um samba que se diferencia dos outros pela umbigada.

 

O lado B só tem 6 minutos gravados, com muita interferência.

 

 

OBS.:

Na caderneta, anotei a seguinte moda que não foi gravada:

 

Quando eu cheguei na ponte

Na entrada da cidade

Inocente eu pensava

Que tudo isso era verdade

Mais tudo isso não passava

De uma grande farsidade

 

 

 

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